Acabou a Primavera ...
... e o Verão já caminha há cerca de uma semana.
O tempo não é perfeito e não chega para tudo.
Para mim, o tempo é uma desgraça! Aqui, sentado ou deitado, no Miradouro que já foi do Quico e agora é meu, olho a copa das árvores e pouco ou nada vejo. Tem sido assim toda a Primavera!
Os pássaros sobem e descem as árvores, saltitam de ramo em ramo e eu a ver.
Os cães, atrelados ou soltos, caminham na relva, a relva que era minha e onde eu era rei.
Às vezes distraio-me e adormeço. Quando acordo dou com o Ventor a fotografar as flores do jardim, os patos, as rolas turcas, a família Tobias, sei lá ...
Ontem ele pegou na máquina, desceu as escadas e, eu fui logo a correr para o Miradouro. Até me assustei. Mesmo coxo, andava num reviranço, a tentar fotografar estorninhos. Depois foi para o rio e nunca mais de lá saia! Andava atrás de um passarinho pequenino que ele diz ser uma carricinha ou, então, a ver as rolas turcas a descascarem-se para tomar banho. A família Tobias também queria mas, com o Ventor por perto, a madame Tobias não conseguia arregaçar as penas das coxas para entrar na água.
Eu só a ouvia gritar: "Tobias, pede ao Ventor para ir embora, senão não tomo banho hoje"! Espreitei por entre os choupos e lá estava ela, econdida entre a folhagem de outro choupo, nas margens do rio. O Tobias, todo desengonçado, dentro de água, só se ria.
As Verónicas, no campo das flores tão semelhantes à carricinha. Minorcas!
Mesmo assim, o Ventor decidiu-se por sair de lá mas viu viu umas flores azuis, muito pequeninas, entre a relva do jardim e decidiu fotografá-las. Esteve ali, de rabo para o ar, de máquina na mão e a madame Tobias num sufoco.
Por fim, lá apareceu o Ventor, em casa, com a máquina cheia de flores e animais para eu me entreter.
Mas o que eu queria, era pisar a relva!
Outras flores tão minorcas como as verónicas. O Ventor não sabe o nome destas e eu não estudei botânica. Mas se o Ventor descobrir, eu colocarei aqui
Vocês já ouviram falar num arnês? O Ventor disse-me que ia comprar um arnês para me levar com ele. Diz que se vai estar nas tintas para a Vet. Ela recomendou-lhe que não me levasse à rua por causa das doenças e das pulgas, ... isso eu ouvi!
Mas eu tenho tantas saudades de pisar a minha relva! De desafiar os cães para uma corrida. Eu penso que vocês sabem que a boa vida não interessa a ninguém e, muito menos, ao vosso amigo Pilantras. Estou tramado!
Já passou o Inverno, a Primavera, e já caminho pelo verão fora e eu, sem pisar a minha relva. Só a vejo!