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Pilantras com o Ventor

O gato Ticas, nos trilhos do Ventor

Pilantras com o Ventor

O gato Ticas, nos trilhos do Ventor

A foto no cabeçalho é uma representação da batalha naval de Sinop, a qual fez parte de cerca de 300 anos das guerras russo-turcas. Já que o Ventor não diz nada, falarei disso por aqui. Rascunhos do Quico.

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Castanhas para Todos

Estamos no Outono e o Outono é tempo de castanhas e, para chatice do Ventor, este ano, não temos o belo verão de S. Martinho. Mas temos castanhas!

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Castanhas assadas

O Ventor tinha por aqui um amigo que, sem eu o conhecer, já o fez meu amigo também. Era o nosso amigo Quico. O nosso amigo Quico, diz-me o Ventor, ficava todo contente com as castanhas. Quando a nossa dona começava a retalhar as castanhas para as assar ou cozer e não rebentarem, dava-lhe uma para ele brincar. O Quico corria pela cozinha fora, pelo corredor e pelo Hall sempre às lambadas às castanhas e, parecia dizer: "se o Ventor gosta tanto destas coisas, é porque são boas"!

Também gostava de brincar com as folhas secas dos castanheiros.

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Desenho colorido da folha do castanheiro tirado da Wikipédia

Do castanheiro retiramos belas madeiras para a construção, para o mobiliário e a lenha que tanta falta fazia nos tempos de outras energias e os seus frutos, os ouriços espinhosos em cujo interior guardam as sementes, as belas castanhas (castanha sativa).

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Ouriço da castanha

Juntamente com o trigo, o centeio e a cevada, a castanha fazia parte essencial da alimentação portuguesa até ao séc.. XVII. A chegada de outros alimentos, vindos das américas, tal como o milho, a batata, o feijão e outros, tirou valor à castanha como fonte de alimentação. Hoje, a castanha para muita gente como o Ventor é apenas uma gulosice que caminha lado a lado com o Outono e com o S. Martinho.

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As mãos que temem os espinhos dos ouriços

O ouriço é, também, o esquema defensivo da castanha. Ele protege a semente para não ser fácil aos animais a apanharem para comer. Será assim, muito mais fácil que a castanha se enterre no solo e se reproduza para que os castanheiros não acabem.

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A beleza da castanha

 Mas as castanhas que sempre, durante os meses do Outono, iam compondo as mesas dos lavradores, sobretudo no Norte de Portugal, como um dos seus belos alimentos, têm tendência a acabar. Hoje já não se vêm, como dantes, os velhos soutos de castanheiros. Dizem os sabidos que foi a introdução do pinheiro bravo e outras espécies de árvores que fez declinar o castanheiro.

Mas as castanhas são também as intérpretes da festa. A Festa de S. Martinho! O Ventor já me disse que vou ter de aprender a comer, pelo menos, um pedaço de castanha no dia de S. Martinho e que vou ter de continuar a fazer como ele e o Quico faziam. Oferecer castanhas a todos que gostam delas. Pelo menos, fazer com que eles pensem que afinal as castanhas continuam e devem ser para todos.

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Vamos comer as castanhas com o nosso S. Martinho de Soajo

Um bom magusto para todos e, se não houver água-pé, sirvam uma malguinha de vinho à moda de Adrão e, façam rodadas como se fazia na Tasca do meu amigo Carrasco, nos nossos tempos difíceis mas, também, belos tempos.

No entanto, para continuar a saga de ser um bom cidadão, uma malguinha e já está bom.

Os Fiéis Defuntos

O Ventor diz que os seus amigos, todos eles, aqueles que já foram chamados à presença d'O Senhor da Esfera, são parte do todo a que os homens chamam "Os Fiéis Defuntos". Por isso, o Ventor recorda todos eles e marca presença nos jardins mais tristes que existem: os cemitérios, no dia de "Todos os Santos" e, no dia dos "Fiéis Defuntos".

Este ano de 2014, fui ao Cemitério da Amadora, no dia 31 de Outubro, no chamado "Dia das Bruxas" porque, iríamos ter os dias um e dois de Novembro muito ocupados. Foi ali que, mais uma vez, comecei a recordar todos aqueles que, pelos anos fora, caminharam a meu lado e já me deixaram.

Tenho familiares e muitos amigos, espalhados por muitos cemitérios de Lisboa e arredores. Na Amadora, no Alto de S. João, nos Prazere, em Benfica, no Lumiar, ... e com todos esses, os cemitérios de Adrão, de Paradela, .... E, quantos outros que já nem sei onde estão!

Ontem, na comemoração do primeiro aninho do Santiago, dia de Todos os Santos, recordei todos aqueles que me foram deixando e os Santos a quem, pela vida fora, fui pedindo protecção. Depois recordei também aqueles que vim a conhecer desde o primeiro ou os primeiros dias do seu nascimento. Recordei, também, os anos daqueles que nos convidaram ontem para comemorarmos os seus aniversários. O nosso amigo Mendes D., o nosso pequenote Afonso e, como não foi possível o desdobramento, calhou-nos estar presentes no anito do nosso pequenino Santiago, um novo Príncipe das Marés ou Príncipe da Pérsia mas que saberá sempre que, apesar da vida não lhes ter sorrido nos primeiros tempos do seu primeiro ano de vida, nem tudo será negativo e ele saberá, com o tempo, tal como eu espero, que terá sempre amigos a seu lado.

Não fomos ao porco assado para os lados de Santarém, não fomos caminhar entre os medronhos pela Arrábida mas, caminhamos no Lugar do Sol ao lado do Santiago e dos seus e nossos amigos. Para todos eles, continuo a pedir ao Senhor da Esfera que lhes proporcione tudo de bom e que continuem a festejar por muitos, e muitos anos, junto dos seus familiares e amigos, com ou sem a presença do Ventor.

Mas eu não esqueço ninguém, mesmo não tendo a possibilidade de visitar as suas lápides. Recordo o tempo que, quando ainda um puto, com meus pais em Paradela, entrava no cemitério de Adrão, já de noite, para acender uma velinha aos meus avós. A lanterna numa mão e a vela na outra, com a caixa de fósforos no bolso. Já nessa altura gostava de ver a velas a arder, iluminando-os a todos.

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 A chama da Luz para os que nos deixaram

Hoje não posso lá ir, mas não esqueço ninguém. Também não esqueço nenhum dos meus companheiros de guerra que tive conhecimento que nos deixaram. Continuamos sempre juntos.

A frase que se encontra na lápide de Artur Bual, penso que será da autoria dele, julgo que ninguém deve esquecer. Será mais ou menos isto: «a Terra é generosa. Continua a oferecer-nos flores».

Penso que isso é uma verdade absoluta que não devemos esquecer. Temos muito que fazer para que a terra continue a ser generosa. E, também, nunca esquecermos de levar a sua generosidade até junto daqueles que já nos deixaram.