Rola-Brava
Pilantras
A rola brava é uma das belezas do Ventor, como já foi dito neste post.
Mas o Ventor, sempre que caminha, leva os olhos postos nas árvores, no chão verde, nos bosques e, na procura dos seus amigos penudos, especialmente dos seus amigos de criança, como os pombos bravos, os gaios, as poupas, os cucos e, sem nunca se esquecer das rolas bravas como estas.
Elas descansam frente ao ventor a cerca de 15 m, ao lado do charco onde mataram a sede
Disse-me o Ventor que, caminhava uma tarde destas, nas margens do rio Jamor e colocou-se um pouco à sombra de uma árvore, quando lá longe, esvoaçavam pombos torcazes e outras aves que lhe pareciam rolas. "E se forem rolas bravas"? ... pensou ele junto de um melro! O melro disse-lhe: «elas andam por aí, Ventor, eu já as vi». "Oh, black, tu tens a certeza"? «Absoluta, Ventor. Elas topam-se à légua»!
Assim foi. O Ventor ficou por ali um pouco e, de repente, sentiu um bater de asas especial. Ali, perto do Ventor e do melro, estava um charco de água suja, lamacenta onde, de vez em quando, passam carros. Caminhando nesse trilho, rumo ao charco, lá vinha uma menina linda do ventor a célebre (Streptopelia turtur), a nossa rola brava ou rola-comum. O Ventor ficou quietinho, na sombra. Nem acreditava que a sua beleza se dirigia para ele. Nem se mexeu, só para a observar. Lá atrás, vinha outra, seria o seu par. O Ventor nem mexeu a máquina! Viu-as beber água, como as via em Vila Cabral. Em Vila Cabral, eram sempre grupos delas. Elas beberam e dirigiram-se para as árvores. O Ventor continuou a caminhada dirigindo-se para o carro. Pegou no carro e levou-o para o local do charco, mais em cima. Dali, pela janela do carro fotografava, com a máquina no silêncio, toda a passarada que ia ao charco.
Rola-brava ou rola-comum (Streptopelia turtur). Ela sabia que eu estava dentro do carro mas, também sabia que eu só a queria olhar. Por isso, foi deitar-se, bem perto, para que os meus olhos matassem saudades
Dentro de algum tempo, outro casal de rolas bravas, caminha direito ao charco. Apontei a máquina e esperei. Elas viram o carro e desconfiaram. Uma ainda tentou esboçar um voo de fuga, mas não. Como eu fiquei quietinho, ela dirigiu-se ao charco e a outra logo atrás, meteram o bico todo pela água dentro e mataram a sede. Saíram da água, sempre a olhar-me de lado. Pararam a cerca de 15 metros de mim. Uma deitou-se e a outra, depois de observar tudo em volta e voltar a olhar o carro, deitou-se também. Ficaram as duas ali, deitadas (foto de cima) e eu, alegre e silenciosamente ia disparando a máquina.
O Ventor disse-me que elas lhe disseram:
«Estamos tão cansadas Ventor que tu nem imaginas. Já viste a nossa vida? Depois de voarmos sobre os céus de África, de observar os charcos, desde as alturas, era sempre uma tormenta para matarmos a sede. Aqui é a mesma coisa. Voamos mais de 10.000 km, para nos podermos reproduzir e, para mal dos nossos pecados, depois de termos os nossos filhos criados, somos submetidas a intensos tiroteios só escapando à tortura e à morte, cada vez menos de nós. Tu ainda nos vais vendo e eu sinto que nos teus olhos só está presente o prazer da nossa companhia. Um dia, Ventor, muitos ficarão esperando a nossa chegada, como tu fazes hoje e não nos verão. O nosso destino será o destino da maioria das espécies que ainda vivem neste nosso Planeta Azul.