O Ventor em Évora
Vocês não acreditam mas o Ventor em Évora só dava valor ao Templo da sua amiga Diana.
Mas, desta vez, ele pensou em diversificar. Dirigiu-se à Sé de Évora e, quando deu pela fé, estavam três penudos (as) aos saltos nas árvores. Começou a observa-los e concluiu que eram uma espécie de gralhas de nuca-cinzenta. O Ventor e a minha Dona, decidiram subir pelas velhas escadarias, rumo aos telhados e quando chegaram lá acima, o Ventor deixou a minha Dona entretida a fotografar os telhados e a cidade desde os píncaros das torres e foi ter uma conversa com as gralhas.
Vocês nem imaginam o que aconteceu! O Ventor que é um rato, não da sacristia mas dos telhados, ouviu o seguinte:
«Oh, Miquelina, deixa-me esconder aqui à tua esquerda que anda aí um gajo que me pareceu o Ventor e, se ele está cá, nunca mais nos larga»!
" Oh, Lafayette, porque raio te queres esconder dele se sabes que ele não faz mal a nenhum penudo, nem a gralhas? Lá por ter morto uma águia, asfixiando-a debaixo da bota, não esqueças que foi a águia que o atacou"!
Miquelina observou o Ventor enquanto o Lafayette se escondia à sua esquerda
«Eu sei que a águia foi estúpida mas do Ventor temos de esperar tudo! Temos de contar com tudo olha que esse gajo é pior que o Geraldo sem Pavor. O Geraldo está transformado em pedra mas o Ventor ... não vês como ele se mexe»? E a Miquelina diz: "observa o Ventor e deixa-te de tretas, Lafayette"!
O Lafayette levantou a cabeça e diz à Miquelina: "olha o gajo. Estou a vê-lo"!
«Aquele gajo, Miquelina, com a pedalada que leva, ainda deita o telhado a baixo»!
"És um chato, Lafayette, eu aposto que nem faz sair uma pena do nosso ninho"!
Lafayette e Miquelina, observam o Ventor
«Eu não tenho medo dele, sei que é um gajo porreiro, mas como sei que se torna um chato, nem me apetece olha-lo. Olha para aquela máquina. Nem para»!
Disse-me o Ventor que o Lafayette e a Miquelina continuaram a voar de torre em torre mas o Ventor tinha sempre a máquina apontada para eles. O Lafayette não gostava nada mas a Miquelina estava a gostar de se tornar na vedeta das gralhas de nuca cinzenta.
Vê lá Miquelina, observa-me aquele gajo!
E Lafayette volta a chatear a Miquelina: «penso que ele, agora, já tenta fotografar o Templo de Diana para ver se a apanha por entre as colunas, ou então, anda à procura da cabeça do mouro decepada pela espada do Geraldo sem Pavor. Aquela cabeça que ele tem levantada na mão esquerda depois de a cortar com a direita.
Nem sei como consegues apreciar estas cavalgadas do Ventor pelo Alentejo, se ele se torna um violador dos nossos aposentos»!
"Deixa lá Lafayette, que eu acredito no Ventor. Eu sei que ele é nosso amigo e isso basta-me"!
Foi assim o primeiro dia desta caminhada do Ventor pelo Alentejo. Chama-lhe ele, um raid! Depois, de se empanturrar com o almoço (ele não levou rações de combate. Nada de latas, essas são para mim), continuou a caminhada rumo a Vila Viçosa. Segundo ele me disse, de Vila Viçosa, só lhe enteressava uma conversa com a poetisa, Florbela Espanca.