Os Escambrueiros do Ventor
«Escambrão! Era assim que lhe chamávamos em Adrão», conta-me o Ventor.
São histórias como as que contava ao seu amigo Quico.
O nome oficial destes arbustos é: "crataegus monogyna"! Vale mais chamar-lhe "escambrão" como a gente de Adrão e o Ventor. Tem acúleos muito fortes. Picam e rasgam a roupa num ápice. É preciso grande treino para caminhar num jardim de escambrões, como o "jardim do Grilo", nos anos 50!
"Tem cuidado Ventor, com os escambrões"!
Este espinheiro-alvar, escambrueiro, ... ou crataegus monogyna, é uma das belezas do meu rio
«Era assim que a minha mãe dizia quando eu tinha de ir buscar as vacas, junto ao rio, lá no fundo do Grilo, entre o Eido e a Açoreira. À sombra dos escambrueiros, as ervas eram apetitosas para as vacas, em determinadas épocas do ano, especialmente pelo Outono dentro, após as primeiras chuvas. Era nessa altura que eu ia tirando e petiscando os frutinhos dos escambrueiros».
Esta é uma história que o Ventor me contou, sobre um arbusto que há aqui junto ao nosso rio. A esse arbusto, muitas pessoas chamam vários nomes, conforme as suas regiões. É um arbusto que este vosso amigo Pilantras conhece bem pois já dormi várias sonecas à sua sombra, junto ao nosso rio e, se algum cão embirrava comigo por lhe tirar a sombra, eu fugia para os buracos ali perto, na margem do rio. Nessa altura, já o Ventor me chamava Pilantras e ainda eu não sabia que viríamos a ser grandes amigos e partilharíamos o comer, a cama, as cadeiras, os sofás, os computadores, ... Tudo!
Estes são os seus frutos, os pilritos, ... uma bela despensa para os amigos do Ventor, como o Tobias, os gaios e demais passarada. Só por isso e pela sua beleza, vale a pena velarmos por eles
Por isso, e recordando os tempos em que o Ventor vivia uma vida um pouco parecida com a minha, dos meus primeiros tempos, hoje apetece-me falar deste belo arbusto que nos oferece flores branquinhas ou com uns tons rosa, tão lindas que parecem noivas a caminho do "enforcamento"!
As flores dos espilriteiros são das primeiras a aparecer e, diz-me o Ventor que, em várias zonas do país, já o Inverno deixa os espilritos floridos para fazerem uma bela recepção à sua mana Primavera. É, talvez, o primeiro arbusto florido que o Ventor fotografa todos os anos. Ele já dizia ao Quico e agora a mim, que as flores são eternas mas, apenas, na sua renovação porque, todos os anos elas nascem e morrem.
As suas flores branquinhas ou raiadas de rosa, sobre aquelas belas folhas de um verde lindo, são uma das muitas belezas deste mundo
Voltando às histórias do Ventor, ele continua:
«Nós, os putos de Adrão, tínhamos os nossos trabalhos e, as vacas, as ovelhas, as cabras, de modo geral, eram prioritárias para além da escola. Naqueles tempos, os espilritos por baixo do caminho do Grilo, até ao rio, eram tantos que aquela encosta parecia um jardim todo florido de branco. Como eu andava muito por lá, levava uma foice e abria caminhos para chegar insuflado ao destino. Sim, porque com aqueles acúleos (picos), cada furo podia esvaziar o ventre do Ventor.
No tempo dos frutinhos maduros, no Outono, o Ventor ia trincando um ou outro e às vezes era uma mão cheia deles. Esses frutinhos são um pouco enfarinhados, quando bem maduros e, a minha mãe dizia-me para não comer muitos que podiam fazer mal.
Hoje o Ventor sabe porque a sua mãe e o seu pai lhe diziam isso e eles nunca tiveram a informação que o Ventor tem hoje dessas coisas. Uma vez, o Ventor ouviu na rádio um engenheiro agrícola falar dos espilritos e, então, ficou a saber que, segundo o tal engenheiro, o espinheiro-alvar, o nosso escambrão ou "crataegus monogyna", dá remédios para doenças cardíacas. Por isso, podem provar à vontade os "perinhos" dos escambrões mas não abusem porque eles, tal como as flores e as folhas podem provocar aceleramento cardíaco e sei lá que mais.
Os seus frutos, alimentam a passarada e todos os que os saibam comer com moderação
Com uma colher de flores ou de folhas ou de flores e folhas dos escambrões, 3 vezes ao dia, podemos ajustar a pressão arterial, e a circulação sanguínea, etç. Não esqueçam que os sabichões de hoje aprenderam tudo com pessoas que só sabiam o que a experiência lhe foi ensinando.
Hoje, o Ventor olha os escambrões deste mundo e continua a admirar as suas flores como uma das coisas belas das encostas de certos monte e dos nossos jardins.